Um Vovô é Muito Importante.

Ontem pensei no meu avô, irmão de minha tia Rosa.
Recordo quando era pequena.
Eu e minha irmã gostávamos de ficar no quarto dele.
Ali em cima da escrivaninha achávamos o que fazer.
Isso em sua ausência.
A primeira coisa que pegávamos era a banha de cacau.
UAU!!
Aquilo nós hipnotizava.
Só com o cheiro ficávamos ébrias.
Éramos viciadas no quarto do vovô.
Passamos a freqüentar com assiduidade aquela pequena mesa.
Nosso atrevimento era tanto que comíamos sua banha de cacau.
A barra do suposto chocolate ficava com as marcas dos nossos dentinhos.
Vovô em várias ocasiões ficava perturbado procurando sua famosa banha.
Ao ouvir seus passos nós saíamos do quarto com toda pressa possível.
Reclamava: "Onde está minha banha de cacau?"
Meu avô não brigava.
Sabia que éramos nós as assaltantes do seu tesouro.
Não nós importávamos se ele havia usado para passar em qualquer parte do corpo.
Estávamos viciadas.
Hoje quando me lembro dessa façanha penso.................
Xiiiiiiiiiiiiiii........ que porcaria fazíamos naquela época.
Gostava do meu avô.
Eu de um lado e minha irmã do outro atravessávamos a rua com ele.
Tinha medo.
Vovô andava bem devagar, sem pressa.
Eu com a minha inocência me desesperava e puxava a mão dele.
Imaginava o carro nós atropelando.
Ele como se não existisse.
Reclamava comigo: "Não corre que o carro te mata"
Naquele momento já me sentia morta.
Vovô era uma figura!
A paixão dele era meu irmão um ano mais novo que eu.

Tive sarampo aos 11 anos.
Meu irmão me contaminou.
Ninguém queria ficar com ele.
Eu não importava.
Passava o dia a seu lado.
Vovô trazia revistas em quadrinhos para nossa distração.
Ele ficou bom e eu adoeci.
Fiquei sozinha nesse quarto.
Todo fim de semana mandava bolo para nós.
Era paquerador incorrigível.
Gostava de desfrutar da beleza humana.
Vovô existe.
Nunca se foi.


urububranco.